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Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar

Por Natalino Salgado Filho

Tive a honra de ser convidado para, no próximo dia 26 de julho, ser palestrante e coordenar uma mesa-redonda, ao lado de Helvécio Magalhães (MS), Antonio Carlos Figueira (SES/PE) e Rafael Pacifico de Araujo Pereira Filho (Médico), cujo tema é a “Prevenção da Doença Renal Crônica (DRC)”. Esse evento integra a rica e diversificada programação da edição 2013 da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que será realizada em Recife, capital de Pernambuco. Também estarão presentes estudantes, pesquisadores e profissionais ligados ao Ministério da Saúde e à Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Na mesa-redonda a que me referi, terei a oportunidade de discorrer acerca do instigante projeto denominado “Prevalência de Doença Renal Crônica no Município de São Luís e em Comunidades Quilombolas de Alcântara, no Estado do Maranhão”, que coordeno há dois anos com pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão e do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário. Este projeto é justificado pelo crescimento exponencial de 6 a 8 % ao ano dos casos de DRC, que afeta cerca de 10 a 16% da população adulta de todo o mundo,estimando-se que cerca de um milhão de pessoas sejam mantidas em diálise e transplante renal. E, nessa perspectiva, haverá, no planeta, 36 milhões de óbitos por DRC e doenças vasculares até o ano de 2015.

Trata-se de um tema bastante pertinente, uma vez que a DRC tem sido tratada como uma epidemia negligenciada mundialmente. O aumento da longevidade, os (maus) hábitos alimentares e a qualidade de vida, associados às doenças crônicas como o Diabetes Mellitus (DM) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), são partes de uma complexa rede que contribui de maneira efetiva para o aumento de casos. Em breve, o Ministério da Saúde também estará editando uma nova resolução para este tema.

O desafio é hercúleo, pois o tratamento da DRC ainda é caro e demorado. Um total de dois milhões de brasileiros sofrem com a doença e, em números aproximados, podemos afirmar que atualmente cerca de 100 mil pessoas realizam a hemodiálise, a um custo aproximado de 2,5 bilhões de reais para a saúde pública. No Maranhão, tenho a satisfação de fazer parte da história da vinda da primeira máquina de hemodiálise para São Luís, em 1978, quando se inicia o capítulo de um novo momento dos serviços de nefrologia no Estado. É com alegria ainda que afirmo ser o nosso Maranhão uma das referências em terapia renal substitutiva, com diversas conquistas que não caberiam neste espaço. Entre elas, destaco a implantação do Serviço de Nefrologia no Hospital Universitário, que passou a realizar transplantes de rim desde março de 2000; e o alcance de 403 transplantes neste ano de 2013, obra do trabalho elogiável da nossa equipe.

A DRC é, muitas vezes, silenciosa e tem múltiplas causas. E, dentre as quais, a vida sedentária, o fumo, o excesso de peso, diabetes, hipertensão arterial são alguns dos principais fatores de risco para desenvolver a doença renal. Em nosso país, a maior causa de falência renal se deve à Hipertensão Arterial Sistêmica: ela é responsável por cerca de 35% dos diagnósticos, seguida do Diabetes mellitus, com 28%. No caso da hipertensão, as estimativas não são precisas. Pesquisas apontam que a taxa de prevalência na população urbana adulta brasileira varia de 22,3% a 44%. É ligeiramente diferente entre homens e mulheres, mas ainda se deve acrescentar a essa porcentagem parte da população infantil. A incidência aumenta com a idade e o número considerável dos portadores que não sabem que têm a doença. Apenas 30% recebem tratamento adequado.

Embora essa doença seja grave e complexa, com tratamento adequado realizado por profissional da área ainda é possível ter qualidade de vida. Mas, acima de tudo, é necessário atentar para a prevenção, que passa pelo conhecimento da própria pressão arterial, por exercícios físicos, ingestão constante de líquidos e cuidados com uma dieta rica e equilibrada. Evitar o cigarro e remédios sem prescrição médica também são cuidados necessários.

Estamos diante de números ainda gigantescos. Lidamos com dramas humanos na rede de tratamento que inclui todos os tipos de terapias renais substitutivas disponíveis, e esses dramas são superados por uma aliança que vemos se formar entre equipes de cuidados e pacientes. A sociedade organizada, os operadores e gestores da saúde não devem descuidar de um esforço realista e coerente para que se utilizem meios criativos a fim de envolver a população num grande processo educacional sobre a doença renal, as comorbidades, os meios de prevenção e as possibilidades de ajuda. Desta forma, acredito que a palavra saúde será mais que um substantivo distante: será parte da vida – inclusive daqueles que lutam diariamente com as exigências do tratamento.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, AMM, AMC e da AML

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