Numa cena própria de filme de ação ou de atentado terrorista no Iraque, no Afeganistão ou em embaixadas em todo o mundo, numa explosão equivalente a 10 quilos de dinamite, o térreo e o subsolo de um prédio comercial no centro no Rio, onde funcionava irregularmente um restaurante (vazamento de gás é a causa provável) foi pelos ares. Resultado da tragédia: corpos arremessados a vários metros, parte do prédio demolida, 3 mortos, 17 feridos ( 4 em estado grave ), corpos queimados, dor, pânico, sofrimento e jogo de empurra para fugir da responsabilidade de quem poderia ter evitado a tragédia anunciada. O restaurante, como um nome sugestivo, de Filé Carioca, virou um amontoado de escombros e destroços.
De uns tempos para cá, como já não bastasse conviver cotidianamente com a morte por tiro de fuzil na próxima esquina ( balas perdidas e tiros certeiros), apesar de todo o esforço de autoridades e seus agentes para reduzir a violência -vide o importante projeto da UPPs-, o carioca vive agora o pavor do descaso pela explosão por vazamento de gás, de bueiros, por tragédias em bondes, nos parques de diversões com brinquedos assassinos, etc, etc.
A cada bueiro explodido já há inclusive uma quantia pré-estabelecida pelo valor da vida humana perdida ou mutilada ou pelo dano material causado. O órgão i(responsável), seja a Light, Ceg, companhia telefônica ou quem for, paga R$ 100 mil e pronto. Tá resolvido o problema da omissão da prevenção. No caso do acidente que matou dois jovens num parque de diversões na Zona Oeste do Rio, há dois meses, (pasmem) o engenheiro i(responsável) apenas assinava- já o fazia há alguns anos- os laudos técnicos sobre o suposto bom estado de conservação dos brinquedos sem sequer vistoriar o local. Na tragédia com o bonde que matou 5 e feriu 57 no bairro de Santa Teresa ( impressiona a fotografia do bonde tombado) a perícia constatou 23 itens de mau estado de conservação do tradicional e secular meio de transporte de um dos mais belos cartões postais do Rio.
Na cena de terror desta quinta-feira, 13/10, no centro da cidade -a edificação não foi aprovada para utilização de gás combustível, seja sob a forma de cilindros de GLP ou canalizado de rua sem prévia autorização, mas o restaurante funcionava- fica apenas uma pergunta a ser respondida, (espera-se) após a conclusão dos inquéritos técnico e policial. Quem são os responsáveis pela imprudência, pela omissão, pelo descaso, pela negligência e pelo dever de fiscalizar? Que pelos menos cada qual responda civil e criminalmente por seus atos. As vítimas e seus familiares exigem justiça e a responsabilização. Por enquanto, o Rio continua sendo a Cidade do Terror. Aguardemos agora a próxima tragédia evitável.
Milton Corrêa da Costa
Coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro