Por Milton Corrêa da Costa
Na madrugada do primeiro dia de 2012, sob o barulho causado pela queima de fogos da virada de ano, criminosos tentaram arrombar um caixa eletrônico do Bradesco, no estacionamento do Supermercado Lopes, na região do guia Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Um dos moradores de um dos prédios da região testemunhou a ação dos bandidos. A polícia, ao chegar ao local, encontrou a porta de vidro do quiosque do caixa destruída, alguns fogos de artifício próximo à máquina e um suposto explosivo fixado no caixa. Há suspeita que tenham levado duas caixas com dinheiro. Uma equipe do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) foi acionada e detonou o material explosivo encontrado.
Chegou a quase 150 o número de casos de ataques a caixas eletrônicos ocorridos no horário noturno, na Região Metropolitana de São Paulo em 2011. Foram 62 ações na capital paulista e outras 83 nas demais cidades da Grande São Paulo. Em 102 dos 145 casos, os bandidos utilizaram explosivos. O saldo foi de 45 pessoas presas, várias delas policiais militares, e 14 mortas em confronto com a polícia. O mês de maio foi o que mais registrou esse tipo de crime: foram 31.
Também na madrugada do primeiro deste 2012, dez assaltantes explodiram dois caixas eletrônicos, em Denise, a 208 quilômetros de Cuiabá. Pelo menos 25 pessoas, que estavam em uma lanchonete próxima ao banco, foram feitas reféns. Segundo a polícia, as vítimas foram posicionadas em frente ao banco para que a ação não chamasse atenção. O bando usou dinamite para o arrombamento, mas só havia cheques nos caixas.
Em todo o Brasil foram centenas de casos em 2011. Tal fato pressupõe que a orientação da FEBRABAN para que sejam usados, numa estratégia dissuasória de tal prática criminosa, dispositivos que tornam as notas manchadas ou se incendeiem, após a explosão dos caixas eletrônicos, tem sido inócua ou certamente nem sempre funcione.
Tais fatos coincidem com o roubo de explosivos no Brasil que cresceu 170% entre os anos de 2009 e 2010 no país, diz o Exército. Em 2010, mais de uma tonelada foi levada por criminosos segundo levantamento do Exército, força militar responsável pelo controle de armas e explosivos no país. A carga é usada principalmente para ataques a caixas eletrônicos, segundo a polícia. Conforme o relatório do EB, no total, 1,06 tonelada de emulsão de nitrato de amônia e de dinamite foi roubada ou furtada de pedreiras e obras em sete estados brasileiros no ano de 2010, e não foi recuperada. São estes explosivos, segundo autoridades policiais, que estão sendo usado para explodir caixas eletrônicos em todo o país.
O perigo, a meu ver, é que não está descartado o emprego de tais artefatos em ataques do narcoterrorismo no país para outros alvos e objetivos definidos. É preciso estar alerta para tal possibilidade.
A quantidade de emulsão e dinamite levada pelos criminosos em 2010 foi 170% maior do que a de 2009, quando foram furtados ou roubados 392quilos, segundo o Exército. Os dados, segundo o Centro de Comunicação Social da instituição, são da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, órgão subordinado ao Comando de Logística do Exército Brasileiro.
CIDADES ONDE HOUVE FURTO DE EXPLOSIVOS EM 2010
Vespasiano Correa (RS), Pelotas (RS), Eldorado do Sul (RS), Gravataí (RS), Nova Roma do Sul (RS), Luminárias (MG). Campo Belo (MG), Sengés (PR), Siderópolis (SC), Forquilhinha (SC), Arapiraca (AL), Maceió (AL), Morrinhos (GO), Ariquemes (RO), Cacoal (RO)
Fonte: Exército
Conforme o relatório do Exército, além da tonelada de emulsão e dinamite, outros 11,7 quilômetros de cordel detonante também foram furtados em 2010, além de 568 espoletas ou detonadores. Para se ter uma ideia do que representa a quantidade de explosivos em poder dos criminosos, para implodir em 2002 o prédio que abrigava a penitenciária do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, o governo divulgou ter usado 250 quilos de emulsão.
As maiores quantidades foram furtadas nos estados de Rio Grande do Sul(373 kg de emulsão) e Alagoas (300 kg)em 2010. O levantamento não inclui as duas toneladas de emulsão roubadas em uma rodovia da capital paulista em setembro do ano passado, pois a carga foi recuperada pela polícia. Não há ainda relatório com os dados de roubo de explosivos no ano de 2011.
O delegado Antônio Barros, gestor do Departamento de Repressão a Crimes Patrimoniais de Pernambuco, e que investiga a série de ataques a caixas eletrônicos no estado, qualifica o uso de explosivos para arrombar caixas eletrônicos como “uma nova modalidade criminosa que vem se instalando pelo país, principalmente no Nordeste”. Os explosivos usados nos ataques são roubados de pedreiras e obras.
O Delegado Antônio Barros lembra que “estes explosivos são roubados normalmente de pedreiras ou obras em estradas. Alguns criminosos usam os explosivos sem terem conhecimento e acabam destruindo as agências. Outros pesquisam na internet e vão testando a quantidade até acertar. É um crime que está estourando em todo o Brasil” afirma o delegado.
Em Pernambuco, a polícia prendeu em março do ano passado quatro suspeitos de assaltos escondidos em um sítio de Limoeiro, onde também foi localizada uma carga de explosivos. A Polícia Federal diz ter detido em 2011 o suspeito de comandar a série de ataques em Alagoas e Pernambuco: José de Arimatéia Rodrigues de Lima, conhecido como Ari Soldado, de 29 anos, é apontado como o chefe da quadrilha. Segundo a Polícia Federal, ele era responsável por aliciar funcionários de pedreiras, de onde os explosivos eram desviados ou roubados, e também fixar as cargas detonadoras nos caixas eletrônicos.
Em recente depoimento, ao computar os resultados da ação conjunta, entre junho e dezembro de 2011, nas fronteiras brasileiras, entre integrantes das Forças Armadas e das Polícia Federal e policiais estaduais, o Ministro da Defesa, Celso Amorim, declarou que durante a ação repressiva e de fiscalização, foram aprendidos 8 mil quilos de explosivos e agrotóxicos, não tendo sido divulgado especificamente o montante de explosivos apreendidos.
Há, portanto, por quase todo o país quadrilhas especializadas em explodir e roubar caixas eletrônicos onde quer que se encontrem. Ou seja, há em mãos de perigosos delinquentes quantidade considerável de artefato de guerra de alto poder de destruição. A questão deve preocupar cada vez mais as autoridades policias e dirigentes de bancos que precisam, com dados da inteligência policial, desenvolver mecanismos de defesa mais eficazes para frear o perigo iminente.
No caso específico do Rio de Janeiro, com a dura repressão e enfraquecimento do poder do narcotráfico, nada garante que perigosos marginais da lei migrem doravante para tal tipo de prática criminosa. O preço da paz social será neste caso a eterna vigilância. Que sejam tomadas as necessárias medidas legais de prevenção. A melhor estratégia será a ação proativa do aparelho policial antecipando-se à preocupante prática criminosa. Mãos à obra antes que seja tarde.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro