Por Abdon Marinho
Bastaram duas chuvas intensas para se revelasse o quanto é precária e frágil a infraestrutura de nossas cidades. Por onde você anda o que mais encontra são buracos, verdadeiras crateras, das quais motoristas e transeuntes têm que se desviar para não ficarem no prejuízo. Não adianta dizer que a culpa é do inverno, não é, por duas ou três chuvas mais fortes, as demais ficaram bem abaixo do normal, tanto que os rios perenes estão com o nível baixo e a represa do Batatã não possui água para garantir o abastecimento de parte da cidade.
À população resta se apegar com São José para que continue chovendo, se não quiser passar sede. Também não adianta governo estadual e seus defensores nos parlamentos e na mídia apontarem o dedo para para o governo municipal de São Luís, pois as obras feitas pelo estado, que conforme alertei mais uma vez, e que não tem seis meses de feitas apresentam pontos quase intransitáveis. As pessoas que se deslocam para Ribamar, Raposa ou Paço do Lumiar, aqui mesmo, na Ilha, sabem do que falo, quantos não penam nas ruas, nas vias principais da ilha? Passo pelos mesmos pontos que já vi sendo recuperados pelos municípios, estão com os mesmos buracos, as mesmas panelas, as mesmas “borrocas”. Obras apresentadas como redentoras dos inúmeros sofrimentos da população fazem vergonha aos seus governantes, se vergonha não fosse artigo tão escasso nos dias atuais. São obras mal e porcamente feitas, tanto as empreendidas pelo governo estadual quanto as realizadas pelos municípios da Ilha.
Pois bem, esse nem é o assunto deste artigo apenas constato o que venho dizendo desde sempre. Vou além, não duvidaria, se em matéria de obras nojentas, fossem os prefeitos da ilha os mais aplicados alunos da governadora. Os primeiros da classe.
Mas, como disse, o assunto do texto é outro, vamos a ele.
O governo estadual anunciou, e pelo soube, começou a realizar, mais de 1000 km de vias urbanas nas sedes dos municípios. Não duvido das boas intenções dos governantes, mas como todos sabem de boas intenções…
Já falei, por aqui mesmo, e mais de uma vez, do empobrecimento dos municípios brasileiros, os do nordeste principalmente. Esses mil ou mais quilômetros que o Estado está repassando aos municípios – e que acredito não sejam executados todos, não há tempo, não há empresas, mão de obra suficiente e ainda a falta de matéria-prima –, melhor seria empregado se fosse feito um trabalho de calçamento com blocos sextavados ou outros materiais, como paralelepípedos, que pudessem gerar emprego e renda para as populações locais.
As noticias que nos chegam do interior é que a mesma qualidade das obras que essas empresas contratadas pelo estado e também pelos municípios, usam por aqui, apenas um pouco pior nos demais municípios, com a chuvas levando a tarde o serviço da manhã.
Ainda que essas obras fossem feitas com perfeição, o que não é o caso, e todos sabemos disso, ainda assim não seria e não é um bom negócio para os municípios. Isso porque nenhum deles possui condições de garantir a manutenção destas ruas asfaltadas. Arrisco dizer que mais de noventa por cento dos municípios não têm condições de fazer a manutenção destas vias. Quando surge um buraco numa rua asfaltada, o seu remendo deve ser feito com o mesmo tipo de asfalto, possuir a mesma densidade, caso contrário não adere ao anterior, como resultado, o buraco é tapado num dia e no outro já começa a abrir novamente. Uma das razões de vermos todos os dias os mesmos buracos sendo remendados é essa. Como os gestores não sabem ou não se inteiram do assunto, pagam pelo mesmo serviço uma dezena de vezes.
No caso dos municípios do interior, cujo a maioria sequer possui fábrica de asfalto, os reparos serão ainda mais traumáticos, taparão os buracos surgidos com pedra e massa de cimento e ao lado dos buracos tapados abrirão outros com a infiltração da água. Tal qual as rodovias estaduais prometidas para tirar os municípios do isolamento e se desmancham às primeiras chuvas, o governo parece ignorar o que seja acompanhamento e fiscalização de obras.
Outra situação que o governo parece ignorar é o calor no interior do Maranhão. O asfalto por sua própria natureza, absolve muito mais calor que qualquer outro material, como resultado teremos cidades bem mais quentes e impermeáveis do que temos hoje.
Sob todos os aspectos, o governo ao invés de oferecer quilômetros de asfalto aos municípios (exceto para estradas) deveria buscar junto aos municípios projetos de urbanização e melhoria das ruas com estas outras tecnologias, principalmente blocos de concretos, que apresentam muito vantagens para os municípios que o asfalto, a começar que a produção dos blocos pode ocorrer nas próprias localidades, usando a mão de obra local e gerando renda ao invés do dinheiro ir alimentar as contas dos donos do petróleo nas bancas internacionais; a manutenção que pode ser
feita por qualquer um, sem necessidade de se ir buscar tecnologias material fora do local; o uso dos blocos possibilitam a penetração da água no solo tornando a temperatura bem mais amena, ganhando com isso o meio ambiente.
Além das vantagens referidas, existem outras, dentre as quais o preço, bem mais conta, enquanto um metro quadrado de calçamento com blocos custa em média R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) enquanto que o asfalto custa em média R$ 187,87 (cento e cinquenta reais).
Pois é, até quando o governo ensaia ajudar os municípios maranhenses – não se sabe por qual razão –, opta pela ajuda mais equivocada que se poderia ter.
A solução para os municípios, sobretudo os mais pobres, é o calçamento com blocos ou outras tecnologias, pela razões que declinei acima. O governo do estado ensaia com um falso presente que causará bem mais prejuízos as economias locais que benefícios. Os gestores municipais, tangidos pela necessidade e pela falta de visão, não questionam estes presentes e ainda os festejam.
Um presente de grego que custará aos cofres públicos a bagatela de R$ 1,2 bilhão de reais, um prejuízo para toda a sociedade maranhense. Caso quisesse mesmo ajudar a infraestrutura dos municípios, repassaria o valor correspondente ao custo do asfalto, na média 5 ou 6 km um pelo outro, para que os próprios gestores fizessem suas obras de calçamento de vias públicas, exigindo a contratação de mão de obra local, o uso de tecnologias benéficas ao meio ambiente, gerando trabalho, renda e injetando esse dinheiro na economia local. Ora, se economia dos municípios encontra-se em crise, nada mais urgente que integrar a economia, injetar recursos e gerar renda para a população.
Essa seria a atitude esperada de gestores com visão de futuro e com compreensão da realidade do Maranhão. Mas acho que isso seria esperar demais.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.