Os servidores e alunos do Campus de Alcântara enviaram ao blog uma carta de repudio á atual direção da instituição pela forma negativa que vem sendo conduzida.
Na carta, eles questionam a gestão de má fé imposta pelo reitor José Ferreira Costa, por desrespeitar a base educacional e o caos na estrutura física presenciada por alunos e servidores. Leia abaixo a carta de repúdio:
Nas últimas semanas assistimos a alguns acontecimentos envolvendo o Campus Alcântara que nos causaram preocupação e indignação.
Diante de situações de desrespeito a servidores e alunos, expressas no descaso no trato das questões administrativas e sobretudo pedagógicas do Campus, técnicos e professores reunidos em Assembleia Geral publicamente reprovaram as ações da Direção Geral do Campus, bem como deliberaram pela realização de uma Consulta Pública em que alunos, professores e técnicos pudessem opinar sobre a continuidade ou interrupção da atual administração do Campus Alcântara e a abertura do consequente processo de ELEIÇÃO de outra diretoria.
No decorrer deste processo, porém, o diretor-geral do campus foi exonerado pelo Magnífico Reitor José Costa Ferreira, que indicou para o cargo, o professor Gairo Garreto.
A realização da Consulta Pública torna o IFMA uma instituição mais transparente, democrática e plural uma vez que através de eleições é possível que as várias concepções políticas, pedagógicas, administrativas sobre a educação se confrontem e qualifiquem o debate em torno daquilo que o IFMA precisa ser para seus alunos, servidores e sociedade. Através da consulta pública é possível, também, minimizar o aparelhamento político e ideológico dos grupos que há muito se revezam nos cargos de direção e que com suas práticas pouco contribuem para o fortalecimento do IFMA.
A exoneração do antigo diretor e a nomeação de uma nova direção-geral, através de indicação do reitor, ao mesmo momento em que servidores deflagravam um ambiente democrático no campus com objetivo de construir uma consulta pública para escolha da Direção-Geral, é uma clara tentativa de esvaziamento do processo político que se iniciou no Campus Alcântara.
É, sobretudo, um ato de indiferença ao processo organizativo dos servidores e de desrespeito à autonomia do Campus, autonomia esta que é princípio estatutário do IFMA.
Do que, afinal de contas, tem medo o magnífico Reitor? De que a comunidade escolar (professores, técnicos administrativos e alunos) legitimamente tome as rédeas de sua própria história e escolha democraticamente aqueles que irão coordenar as decisões coletivas?
É absurdo querer que aqueles que fazem a escola tenham o legítimo direito de escolher a direção da escola?
A resposta é possível se regredirmos um pouco na história de nosso Campus para compreender os problemas atuais de nossa escola.
O Campus Alcântara foi criado em 2008 no formato de Núcleo Avançado do Campus Monte Castelo. Como núcleos não tinha orçamento, dependíamos quase que exclusivamente do Campus mantenedor, não tínhamos governabilidade sobre nossas próprias decisões.
A dependência na estrutura administrativa contaminava também a postura da direção do então núcleo, que a todo ato pedia permissão à reitoria. Tal submissão criou uma imagem pública do núcleo de “anexo”, de um núcleo que existia apenas para o MEC cumprir um acordo em que se comprometia com políticas de educação para o território étnico de Alcântara, um núcleo repositório de servidores, um núcleo “que nem deveria existir”.
Resistindo a esse processo de desvalorização pela própria direção; professores, técnicos e alunos enfrentavam batalhas cotidianas para fazer o núcleo se afirmar. Assim, foram realizados projetos de extensão e pesquisa, mesmo sem apoio institucional, criados cursos que não se ajustavam ao “apelo dos setores produtivos”, mas atendiam às expectativas das pessoas que vivem em Alcântara, foi fortalecido um ambiente em que as pessoas se chamam pelo nome, conhecem e são conhecidos na cidade, se unem para realizar atividades que podem não contar carga-horária, nem rechear currículos, mas que expressam o compromisso que se tem com o campus.
O núcleo transformou-se em campus, em 2010, mas a autonomia não veio, ficou no papel. A mesma postura submissa de nossa direção em relação à reitoria e de superioridade da reitoria sobre Alcântara continuou a permear as relações institucionais.
Como se vê, a indicação do novo diretor-geral pelo reitor durante nosso processo de mobilização pró-Consulta Pública revela o capítulo atual dessa história. Mas, recusamo-nos a assisti-la novamente.
Sentimo-nos legítimos para repudiar o ato protagonizado pelo Magnífico Reitor em nome de nosso direito inalienável de participação e liberdade de expressão e escolha que funda a sociedade democrática em que vivemos.
Sentimo-nos legítimos para repudiar a indicação da nova direção-geral, pois nossa luta não era contra a pessoa do diretor anterior, mas contra a relação de submissão/autoritarismo que sua direção sustentava com a reitoria do IFMA, e que, o presente ato de indicação reafirma.
Sentimo-nos legítimos para repudiar o ato do Magnífico Reitor, pois devemos ser respeitados em nossa autonomia de Campus e em nossa capacidade de pensar, decidir, planejar e executar coletivamente a construção do nosso ambiente de atuação profissional.
Ao repudiar o ato reafirmamos que continuaremos em nossa mobilização para escolha de nossos dirigentes, sentindo-nos legítimos, portanto, para tornar concreto o passo inevitável da história de ajudar a tornar o IFMA uma instituição acessível à participação e controle social pela comunidade escolar e pela sociedade em geral.
Alcântara, 28 de outubro de 2011.