Por Abdon Marinho
Uma das partes das mais emocionantes da obra gonçalvina I-Jucá Piramá é quando, após o canto de morte do guerreiro Tupi o chefe Timbira manda libertá-lo.
Diz: “- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!… parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.”
Sempre que lembro de I Jucá Piramá, lembro desta e da parte em que o pai do guerreiro o confronta:
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.”
A obra que já é lida em parte alguma da rede deste Maranhão, foi um dos meus livros de cabeceira, com ele prendi o sentido da palavra brio, altruísmo, respeito, etc.
Lembrei-me dele hoje ver no que se tornaram os homens públicos em nosso estado. Vejam, no livro o chefe Timbira deixa claro que o solta porque não quer com sangue fraco, vil, enfraquecer seus guerreiros.
Aqui, de lado a lado, a máquina de propaganda para deixar o adversário sem qualidade alguma, buscam tudo que pode, muitas das vezes relativizam a verdade para que o adversário não seja reconhecido como à altura da disputa. Ao final de tudo, nós pobres mortais, temos a opção de escolher o menos ruim.
Pior mesmo são os famosos puxa-sacos (ô terrinha que tem aduladores) que passam dias e dias reproduzindo todo tipo de inverdades contra os opostos aos seus interesses, quase sempre mesquinhos.
Outro dia foi uma gritaria, tudo porque surgiram declarações de um pretenso candidato elogiando as qualidades do seu contendor. Vendo aquilo indagava: o que tem? Que mal há em reconhecer que o adversário possui qualidades? As qualidades dos contendores valorizam e enobrece a vitória.
Aqui não é assim. Aqui vigora o dito que diz o seguinte: “amigo não tem defeito, adversário se não tiver, coloca-se”. Ora, que mérito há em ganhar de quem não possui qualidade alguma?
Você pega os dois mais importantes jornais da cidade e fica em dúvidas se as notícias ali escritas referem-se à mesma base territorial, chega-se ao absurdo de em uma reunião conjunta, as matérias só se referirem aos seus “aliados”, isso quando não colocam só a fato em que só aparece o que lhe interessa. Fico com a absurda sensação que estamos vivendo no Maranhão, período mais nefasto do stanilismo. Sempre tive que a verdade é uma só e que ela não tem lado. Aqui é diferente, cada um tem sua própria verdade. A notícia tem lado. O pior é muitos propagam isso e acham um grande feito.
A desqualificação pessoal e moral chega as raias do absurdo. De um possível candidato já se disse que se for eleito implantará um regime nos moldes coreanos ou cubano. Dizem isso com a maior naturalidade como se fosse possível tal coisa. Ainda partem para o subjetivismo, é arrogante, pretensioso, etc.
Do outro lado a coisa não poderia ser diferente. Com base em números verdadeiros divulgados pela ONU, se estabelece premissas falsas. Dizem por exemplo que o município administrado pelo pretenso candidato está atrás de outro administrado por uma prefeita que fora apeada do cargo por notória corrupção. É verdade, mas não é toda a verdade. Primeiro porque os bons números do município que está frente deveram bem pouco à ex-prefeita, que assumiu em janeiro de 2009, e que desde o primeiro dia se mostrou um completo desastre e muito mais às gestões anteriores, que continuaram e mantiveram uma posição positiva desde a primeira avaliação em 1990. Segundo, embora seja verdade que o município esteja atrás, os números não mentem, ele foi um dos que mais evoluíram, vejam que saiu da 2111ª posição em 2000 para a posição 1665ª, em 2010, avançou 446 posições. Era 0.572 e foi para 0.708, trata-se um grande avanço. Aqui se reitera a ressalva de que o município passou a integrar o fundo especial mudando de patamar financeiro e ainda que foi muito ajudado pelo governo federal e estadual graças as boas relações com os donos do poder nas duas esferas. Com tudo isso e apesar de tudo, trata-se de um grande feito que deve ser louvado e que valoriza a disputa eleitoral, não reconhecer isso não é só um ato de mesquinhez política, é uma arrematada estupidez. (Estou estudando os números, tão logo tenha tempo escreverei um post detalhando a situação de alguns municípios).
A desqualificação dos adversários, sobretudo se fundada em meias verdades ou em verdades relativas, fará com que disputa não se dê entre guerreiros tupis e timbiras e sim, uma disputa entre os vis *aimorés.
A referência ao termo é apenas infirmar a posição de Gonçalves Dias, nada tenho contra a etnia.
Abdon Marinho é advogado eleitoral