Por Abdon Marinho
A cada ano que passa a educação maranhense parece não avançar. Estamos sempre na ‘rabeira’ da ‘rabeira’, por assim dizer, em todos os indicadores. Até as pequenas melhorias apresentadas aqui e ali são quase nada diante do caos instalado.
Um dos fatores que acredito tenha contribuído para o atraso educacional no Maranhão está no ensino fundamental onde sobra improviso e o compromisso de muitos que fazem a educação já não é o mesmo de outrora. Isso sem contar que a escola não tem acompanhado a evolução tecnológica que o resto da sociedade tem alcançado. Ainda hoje, em todos os municípios, se conta aos milhares as escolas funcionando em condições abaixo do razoável, sem o elementar, muitas sequer possuem banheiros.
Enquanto noutras nações os estudantes passam no mínimo oito horas em sala de aula e têm acesso a todos os recursos científicos e tecnológicos para se desenvolver, as nossas não têm onde fazer suas necessidades básicas, ficam pouquíssimo tempo estudando. Acho que se calcularmos o tempo que o estudante passa concentrado recebendo conhecimento, não chega a uma hora por dia. Isso sem contar as faltas constantes de professores, os atrasos rotineiros, etc. Muitas são, ainda as salas multisseriadas – alunos de séries distintas sob a regência de um só professor –, funcionando em casas de famílias, barracões, capelas… E por aí vai. Outro dia a administração municipal da capital anunciou com ar de vitória que iriam pagar as ‘escolinhas comunitáiras’. Muitos festejaram o feito. Vejo isso como um claro exemplo de atraso, essa é a mesma pauta de trinta anos. Representa muito bem que praticamente nada foi feito no setor nestes anos todos, são gerações abandonadas à própria sorte.
Um outro fato que também contribui para o caos que vivemos é que grande parcelas dos pais perderam o interesse pela educação dos filhos esquecendo que as escolas têm apenas um papel completar na formação dos jovens.
Como vemos, é uma equação que tem tudo para dar errado. E tem dado errado, conforme apontam todos os indicadores e como percebemos no dia a dia, os estudantes não aprendem quase nada no ensino fundamental – vão passando de ano graças a uma política torta de que não pode haver reprovações –, menos ainda no ensino médio e os que, como muita sorte, conseguem chegar na faculdade, para lá levam a deficiência acumulada ao longo dos anos.
Assim o Brasil vai construindo seu destino rumo ao atraso.
Neste sábado, 26/04, não atualizei o site por que fui a Morros conhecer mais uma escola polo – experiência educacional consistente em acabar com as escolas improvisadas e em seu lugar colocar escolas maiores com infraestrutura adequada para receber os alunos que antes estavam espalhados em diversas escolas-salas –, já havia conhecido duas outras escolas. Como os amigos sabem se tem uma causa que me apaixona é a causa da educação, como certeza valeu a pena percorrer as centenas de quilômetros de trilhas para conhecê-las.
A experiência é um embrião e uma tentativa de igualar o ensino da zona rural ao ensino da sede do município, manter os estudantes próximos a seus familiares, diminuindo o êxodo do campo. Cada polo acolhe crianças de um raio de oito a nove km. Parece pouco, mas é muito longe considerando que as estradas não existem e sim trilhas, no inverno inundadas (falamos de uma das regiões mais ricas em recursos hídricos do estado, com lençol freático muito raso) e no verão com a areia chegando ao meio das rodas dos carros traçados. O transporte escolar é feito é toyotas bandeirantes adaptadas. O que se economiza com a manutenção das dezenas de ‘escolinhas’ se equipara ao valor gasto com o transporte. O ganho está na qualidade do ensino.
Os polos inaugurados anteriormente já apresentam algum resultado. Outro dia falando com professor destes pólos ele me disse com orgulho que os seus alunos estão aprendendo a língua inglesa com muita desenvoltura. Esse polo onde os alunos estão desenvoltos no aprendizado do inglês entre outras disciplinas fica a uns vinte quilômetros mais isolados, os professores moram na comunidade e têm desenvolvido outros projetos que estimulam o aprendizado.
Como disse, trata-se de uma experiência. Como toda experiência, se não tiver sequência não terá consequência. Os pólos, construídos com recursos próprios do município pois o FNDE só agora disponibilizou os recursos para a construção de um que foi solicitado desde 2009, ainda não estão funcionando como planejados, em tempo integral, com recursos tecnológicos, com internet banda larga, etc.
Se Morros, com sua geografia absolutamente adversa essa experiência apresenta resultados, acredito que possa ser um caminho para outros municípios em condições melhores geograficamente ou em condições semelhantes.
O Estado do Maranhão poderia encampar o projeto e auxiliar os municípios na sua implantação e funcionamento. Elevando as condições de funcionamento, melhorando os acessos e implantando o ensino médio em escolas pólos em todo o estado. Evitando que os jovens abandonem o campo em busca de melhores condições de ensino e ficando vulneráveis as tentações das drogas, da violência e das más companhias.
Não haveria razão para se deslocarem de perto dos seus pais se possuíssem escolas nas mesmas condições e com os mesmos recursos das escolas das zonas urbanas.
Esta é apenas uma ideia que poderíamos aprimorar no propósito de melhorar a educação, reduzir a violência que chegou de forma inexorável em todos municípios do estado, causada principalmente pelo uso de drogas.
A ideia que o Município de Morros está implantando, como toda boa ideia pode ser melhorada. Os gestores municipais precisam compreender que diante da impossibilidade de se fazer o muito, pelas limitações e por diversos outros fatores que conhecemos, podem irem o pouco, o possível. O que não pode é continuar as coisas como estão. O certo é que as crianças do Maranhão não podem mais esperar.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.