Por Abdon Marinho
Nos últimos dias, como tem sido constante, mais um sobressalto. A população foi surpreendida com a fuga de mais de trinta presos de um dos presídios da capital. Até aí nada demais, fuga de presos acontecem cada todos os dias, no mesmo período ocorreram fugas em Pedreiras e Bacabal (?), nas três fugas, quase cem meliantes a mais nas ruas. A última fuga do Complexo de Pedrinhas seria só mais uma das tantas que ocorreram nos últimos tempos. Tantas, que mais apropriado que chamar aquilo lá de presídio caberia chamar de “solticídio”. Falo desta por que serviu para delimitar um novo patamar na questão da segurança do Estado do Maranhão. Revelar que a bandidagem já não tem qualquer respeito palas autoridades.
A cada matança, a cada fuga, a cada rebelião o governo aparece para dizer que não vai tolerar esse tipo de coisa. A governadora bate na mesa para dizer que vai fazer isso e aquilo. O tempo passa, o esquecimento vem e os bandidos se acham confortáveis para agir. Pagam para ver, como se costuma fazer em jogos de cartas.
Os bandidos do Maranhão, vemos pelas fotos que são exibidas nos jornais por ocasião de suas prisões ou mortes, não nos parecem elementos de alta periculosidade, como se diz no jargão policial.
São “bandidinhos” de ponta de rua, subnutridos, destes que não aguentam um pescoção. Apesar disso, diante da fraqueza e inação do governo, crescem e dão as cartas no sistema prisional.
Na última empreitada criminosa, os bandidos tomaram de assalto uma caçamba e a arremeteram contra o muro da prisão. Os bandidos de dentro do presídio aproveitaram para fugir.
Pois bem. Mais uma vez, está claro que não cessou a comunicação entre os integrantes das quadrilhas, presos ou soltos, continuam em contato permanente, orientando o crime, amedrontando as testemunhas, podendo e atentando a qualquer hora contra os cidadãos.
Não prometeram que iam acabar com isso? A última vez que disseram, se não me falha a memória foi quando, de dentro da cadeia, mandaram que incendiassem os ônibus na cidade, provocando vítimas fatais. Naquela oportunidade disseram também que as forças de segurança haviam interceptado as conversas e sabiam da ação.
Seguindo esse raciocínio temos que concluir que houve uma piora no monitoramento dos presos. Agora a inteligência não interceptou a trama? Não sabiam que iam tentar a fuga? Se sabiam por que não tomaram medida alguma? Por que foram pegos de surpresa com a ação? Por que os presos estavam a lado do muro só esperando a ação para se escafederem? Na vez anterior justificaram que não tinham como se precaver pois a ação poderia ser em qualquer ponto da cidade. E agora, não sabiam que ação seria num lugar certo, determinado?
Não temos como não concluir que o governo não tem mais o controle de nada. Não é aceitável que, primeiro continue livre a comunicação entre os presos e seus comparsas do lado de fora dos presídios. Está claro que houve essa comunicação tanto que estavam esperando; segundo que as forças de segurança não soubessem que isso iria acontecer. Não monitoram as comunicações de dentro da cadeia? Se não, a coisa é mais feia ainda; terceiro, que a separação entre os presos e o mundo exterior seja apenas um muro “casca-de-ovo”; quarto, que na hora da ação estivessem todos do lado de fora das celas. A cadeia virou colônia férias com bandidos trocando figurinhas dia e noite? É isso?
Tenho dito há muito tempo que falta autoridade. O Estado do Maranhão está sem comando, parece a Casa da Mãe Joana, com todo mundo mandando, todo mundo tomando de conta do seu quinhão e ninguém tomando de conta da sociedade. Não dizia a governadora que governar é cuidar das pessoas?
Como uma nota irônica de tudo isso, os bandidos afrontam o governo no mesmo período em que o senador Sarney, pai da atual governadora, divulgou em sua coluna semanal as maravilhas da segurança no governo da filha. Quer dizer que a segurança vai bem e os bandidos continuam tramando e agindo de dentro e de fora da prisão sem serem molestados?
Continuam com ações audaciosas nas barbas do poder? Não é por nada, mas desmoraliza o governo esse tipo de ação. Não adianta, depois do caldo derramado, fazerem operações no intuito de prenderem novamente os fugitivos ou dizerem que não vão mais tolerar isso ou aquilo. Falta autoridade. Os moleques estão para passar a mão nas nádegas de suas excelências e ficar por isso mesmo.
A segunda ironia da fuga, é o tipo de cadeia que temos. Viram a finura do muro? Mais parecia uma casca de ovo. A insegurança em que vivemos é tanta que nem em residências se faz mais muros com tijolos de barro em pé e sem colunas de sustentação.
Vendo o muro caído, consultei um engenheiro amigo sobre o muro.
Chegamos a conclusão que não seria necessário os bandidos tomarem de assalto uma caçamba, uma carroça puxada por jumento faria o mesmo estrago. Repare, nem precisava ser uma carroça puxada por burro, uma puxada por jumento faria a mesma coisa. Outra alternativa à caçamba ou carroça seria os fugitivos impulsionarem todos juntos contra o muro, dificilmente ele não cairia, pois como dito, o muro não possuía qualquer sustentação. A imagem revela isso. a finura do muro me lembrou a imagem do cavalo preso numa cadeira de plástico, muito divulgadas tempos atrás.
A afronta dos bandidos revela que viramos uma piada em matéria de segurança.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.