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Verba de emenda de Juscelino Filho banca obras com suspeita de irregularidades em Vitorino

Uma emenda ao orçamento elaborada pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, bancou obras com suspeita de irregularidades em Vitorino Freire, município administrado pela irmã do ministro, a prefeita Luanna Rezende.

Auditoria da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) realizada em março, constatou asfalto mal feito, ruas esburacadas, rachaduras e falta de sinalização nas ruas que deveriam ser pavimentadas.

O ministro nega qualquer responsabilidade sobre a execução das obras na cidade. A prefeitura não se pronunciou.

As obras foram feitas pela prefeitura com a mesma emenda que o ministro direcionou para asfaltar a estrada que passa em frente à fazenda dele. O caso foi revelado pelo Estadão em janeiro. A mesma auditoria que encontrou obras mal feitas nas ruas da cidade não identificou problemas na construção da estrada que leva até as fazendas da família do ministro.

A emenda destinando recursos públicos federais à cidade maranhense foi apresentada por meio do orçamento secreto em 2020, quando Juscelino Filho era deputado federal. Revelado pelo Estadão, o esquema permitiu aos deputados e senadores enviar recursos para suas bases eleitorais sem transparência. Com isso, parlamentares da base do governo Bolsonaro conseguiram direcionar milhões a mais do que seus opositores, o que foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) inconstitucional.

Diante das irregularidades nas obras indicadas pelo ministro de Lula, o repasse de recursos foi suspenso em setembro. O governo federal já desembolsou R$ 1,5 milhão para o município gastar com as obras.

A prefeita da cidade, Luanna Rezende, irmã de Juscelino, foi afastada do cargo no dia 1º de setembro em função das suspeitas. Duas semanas depois, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), devolveu o cargo para a prefeita, sem julgar os indícios de irregularidades.

A emenda de Juscelino, oriunda do orçamento secreto, é de R$ 7 milhões: R$ 5 milhões para asfaltar a estrada que passa em frente a oito fazendas do ministro e da família dele e o restante para pavimentar outras ruas da cidade. No ano passado, o governo federal pagou R$ 1,5 milhão para bancar a primeira etapa do projeto – o restante depende do andamento dos trabalhos.

Auditoria da Codevasf encontra serviço mal feito em Vitorino Freire

Em março, a Codevasf verificou que havia erros no projeto executivo, documento que diz o que será feito nas obras. Detectou ainda a falta de licenciamento ambiental e qualidade duvidosa do asfalto colocado nas ruas. As ruas pavimentadas foram alteradas durante a execução sem aprovação prévia da Codevasf.

Não havia relatórios para comprovar a quantidade de material empregado na mistura que produz o asfalto.

O que se vê nas fotos da fiscalização são ruas esburacadas e pavimentação faltando em vários trechos. Só o asfalto foi orçado em R$ 5,2 milhões, incluindo todas as ruas beneficiadas.

Nas ruas dos povoados Pau Vermelho e Serra do Jerônimo, que ficam na área rural de Vitorino Freire, as sarjetas – área entre a rua e o meio-fio – deveriam ter 10 centímetros de altura e 30 centímetros de largura de concreto, mas não passavam de três centímetros de altura.

A auditoria também verificou que não havia placa de identificação da obra, apesar de a estrutura ter custado R$ 9,3 mil para os cofres públicos e a prefeitura ter declarado que o objeto estava no lugar. A placa só foi colocada depois de março, com a logomarca do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Houve mudança de trechos pavimentados sem nenhuma justificativa, como a substituição de uma rua da comunidade Centro do Antônio Branco por outra no povoado Centro do José Rodrigues.

Do Estadão

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