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Xuxa diz ter sofrido abuso sexual

Do Fantástico

Eu tenho orgulho de dizer que eu sou suburbana, mas até do que ser do interior, eu sou do subúrbio. Quando eu me lembro de Bento Ribeiro , me vem o trem, me vem eu tomando banho de sol na laje. São coisas que não saem da minha cabeça, eu adoro!

Dos cinco irmãos, a minha irmã Sola era um pouco distante de mim, a Mara era muito mandona, o Cira quase não falava comigo. Blad que cuidava de mim o tempo todo.

Eu tenho essas coisas: mãe muito presente, pai não presente. A mãe dando muito carinho. A gente recebia beijo do pai só no Natal e Ano Novo. E o meu pai, que era uma pessoa militar, distante, a gente tinha que chamar de Seu Meneghel. A gente nunca falava ‘pai’, era sempre ‘o senhor quer isso, o senhor quer aquilo’. Faltava quase bater continência para ele.

O começo

Uma das apresentadoras de TV mais queridas do Brasil. Uma gaúcha de origem simples, filha de militar, que há mais de 30 anos saiu do subúrbio para o estrelato. Foi modelo e depois virou atriz e cantora. Ficou famosa graças ao seu jeito todo especial de lidar com as crianças. Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, todo mundo sabe quem é. Mas agora você vai conhecer Maria da Graça Meneghel. É um depoimento corajoso. Revelador. Emocionante. Aos 49 anos, Xuxa se sente pronta para contar o que viu da vida.

Quando estava voltando da ginástica olímpica, um garoto estava sentado do meu lado no trem, ele estava com bastante revista, e eu fiquei olhando. Chegou uma hora e eu falei: ‘Posso olhar uma?’. E minha irmã me olhou com uma cara do tipo: ‘Você vai puxar assunto com um cara que tu nem conhece no trem?’. E aí eu pedi desculpa, mas o cara me mostrou um monte de revista. E eu fiquei lá olhando as revistas, adorei. E aí ele chegou e falou: ‘Você gostaria de ser modelo?’. Eu tinha 15 anos. Eu falei: ‘Não. Não sou bonita. Não sou fotogênica’. Eu desci em Bento Ribeiro e ele me seguiu. Aí fui até em casa e depois de um tempo ele bateu na porta. Ele mostrou a identidade e disse: ‘Eu trabalho na editora Bloch, mas eu trabalho no arquivo, arquivando revista. ‘Você não tem nenhuma foto que você possa me dar?’. Eu chamei minha mãe e ela disse: ‘Não, ela não quer isso’. E eu falei: ‘Ah, mãe, eu não quero porque todo mundo acha que eu sou feia, mas eu acho que eu quero’. Aí ela perguntou: ‘Você quer?’. Eu sempre gostei de aparecer.

Quando eu comecei a fotografar com 16 anos, foi uma coisa estrondosa. As pessoas começaram a me chamar demais para fazer fotografia. Então com 16, 17 anos eu já sustentava a minha família.

Uma vez, também falar de um trabalho que eu estava fazendo, veio o Maurício Sherman, olhou pra mim e falou: ‘Quer trabalhar em televisão?’. Eu falei: ‘Caraca, como assim trabalhar em televisão?’. ‘Você tem uma coisa de Peter Pan, você tem uma coisa da Marilyn Monroe, tem o sorriso da Doris Day. Eu acho que criança vai gostar’. Eu falei: ‘Mas tem certeza?’.

Os amores
Nunca fui muito namoradeira. Me arrependo hoje. Acho que eu deveria ter aproveitado mais. Mas eu chamava atenção mais de homens, dos maiores. E isso me deu muito problema.

Eu tinha 17, fui fazer a capa de uma revista e era ‘Minha liberdade vale ouro’. E ele mandou chamar uma morena, uma loira, uma negra e uma ruiva. Todas vestidas de dourado. A morena era a Luiza (Brunet), a loira era eu. Só que na foto ele (Pelé) virou um pouco mais pra mim, então ele saiu com a mão mais me tocando. E as pessoas queriam saber quem era essa pessoa que ele saiu mais virado. E começaram a falar que a gente estava namorando, e eu não estava namorando ele.

Ele tinha convidado todo mundo para sair depois dessa foto. Na realidade ele gostou foi da Luiza. Mas a Luiza era casada. Aí ele começou a conversa comigo, ligava bastante, queria falar com a minha mãe, mandava flores para minha mãe. E as pessoas começaram a falar cada vez mais. E um dia ele me deu um beijo. Me deu um frio na barriga, aí eu achei que estava gostando dele. E ele foi uma pessoa muito importante pra mim, eu gostei muito dele. Aprendi muita coisa boa, muita coisa ruim. Eu fiquei seis anos com ele. Ouvia muita gente falar que era porque ele era conhecido, ser famoso. Esse foi um dos motivos que eu quis me separar dele logo no início quando eu vi que estava gostando de verdade dele. Pena que eu era muito nova e ele muito conhecido e bem mais velho e não deu valor a isso.

Um dia eu olhei uma revista e estava o Senna numa fazenda. E eu
pensei: ‘Olha só, um cara que gosta de bicho que nem eu, um cara com grana que não vai querer minha grana, um cara conhecido que não vai querer se aproveitar de mim, mas já tem namorada’.

E aí demorou uma semana, dez dias, ele ligou para a Globo, para tudo que era lugar, para me procurar. Atendi o telefone e ele disse: ‘Eu quero te conhecer’. E eu não podia falar: ‘Não, não quero’, porque eu tinha falado há pouco tempo, para todo mundo ouvir, que eu queria conhecer o cara. Aí eu falei: ‘Mas eu tenho um show para fazer’. E ele disse: ‘Mas eu vou mandar o meu aviãozinho te buscar’. E eu disse: ‘Eu não ando de aviãozinho porque eu passo mal’. E ele disse: ‘Não fica chateada não, mas eu tenho um avião um pouquinho maior’.

A gente se olhou, em vez de se cumprimentar a gente se tocou. A gente em vez de se beijar, a gente meio que se cheirava. Ele tinha um astral muito diferente. A gente ficou conversando horas e ele falou pra mim: ‘O que você vai fazer amanhã?’. E eu disse: ‘Vou ver minha avó’. Aí ele falou: ‘Vou conhecer a sua avó então’. Ele era muito rápido nessas coisas, mas a gente ficou se falando por uns 15 dias. Falando mesmo, não teve beijo, não teve nada, se conhecendo. Até achei esquisito: ‘Gente, será que ele não está interessado?’ Porque eu já estava muito interessada.

Mas quando a gente ficou junto, a gente não se largou, foi um negócio muito doido. Era como se tivesse uma coisa que encaixa de uma maneira tal. Ele gostava das coisas que eu gostava, das mesmas cores, não gostava das frutas que eu também não gostava. Eu sempre gostei de correr e eles sempre gostou de criança. Então se eu fosse homem eu queria ser corredor e ele dizia que se ele fosse mulher ele gostaria de ter a profissão que eu tinha. Então parecia que a gente se completava de uma maneira. Eu estava trabalhando muito e ele trabalhando muito também. Aí eu me separei dele, a gente se separou. A única pessoa que eu pensei realmente em me casar foi com ele. E eu achei que iria reencontrá-lo e que a gente ia ficar junto.

Ele morreu num domingo. No sábado, eu falei assim: ‘Onde é que ele vai correr?, por que eu vou atrás dele’. Aí todo mundo: ‘Mas ele tá namorando’. Eu disse: ‘Eu sei, mas eu vou atrás dele, vou olhar pra ele e vou ver se eu sinto tudo isso que eu acho que eu sinto e se ele ainda sente alguma coisa por mim e a gente vai ficar junto’. Aí no domingo ele foi embora. Tem muita gente que passa nessa vida sem conhecer uma pessoa que se encaixa desse jeito. Se existe a palavra alma gêmea, a minha alma gêmea estava ali na minha frente. Ele tinha tudo que eu queria, até eu desconfiava. ‘Não pode ser, esse cara deve ter lido o que eu gosto de alguém assim’, porque ele fazia tudo que eu queria, ele tinha o cheiro que eu queria. Não pode ter tudo numa pessoa só. Tem que ter defeito, e eu não conseguia. A gente ficou dois anos juntos, um ano e oito meses. Depois a gente se separou e ficou mais dois anos se vendo quase sempre. Um dia a gente vai se encontrar de novo.

O preço da fama
Eu não tinha liberdade nenhuma, eu não tive privacidade nenhuma por um bom tempo. Antes de eu entrar em qualquer lugar as pessoas tinham que entrar na frente pra ver se tinha gente embaixo da cama, dentro dos armários e muitas vezes encontravam gente no armário, gente embaixo da cama. Até hoje eu acho que o preço mais alto é isso. Eu não tenho liberdade pra fazer as coisas que eu gostaria de fazer às vezes. Eu não me privo de ir a um shopping, eu não me privo de fazer compras, mas é meio que quase um evento. Às vezes eu atrapalho as pessoas, às vezes as pessoas nas lojas se sentem mal porque muita gente começa a querer entrar, quebrar, arrebentar. Então eu me sinto muito mal com tudo isso. Se eu vou num lugar público, eu acabo atrapalhando, seja o que for. Uma vez o Mickey veio falar comigo, falou que me amava, escreveu, porque eles não podem falar. E foi correndo chamar a Minnie. E minha filha do lado: ‘Pô, mãe, até o Mickey e a Minnie’. ‘Pô, Sasha, desculpa’.

Esse é o preço que eu pago. As pessoas que têm a liberdade de ir e vir e fazer as coisas que eu não posso fazer, não podem viver o que eu vivo, não podem ter o que eu tenho. Então eu aprendi que isso é o preço. Alto, mas eu tenho muita coisa. Porque eu estou exposta a isso, eu vivo isso. Não só aceito, como gosto, como quero. O dia que eu sair e uma criança não olhar pra mim, não quiser falar comigo, eu vou dizer: ‘Opa, tem alguma coisa errada’.

A assessoria do Michael Jackson estava querendo que ele casasse, tivesse filhos. E eles estavam buscando uma pessoa. Nessa época eu estava trabalhando na Espanha. Fui chamada para o show dele. E eu, obviamente como fã dele, era louca por ele, falei: ‘Eu vou ver!’. Tirei foto com ele, essas coisas todas. Ele estava chupando pirulito, eu peguei o pirulito que ele estava chupando e levei que nem fã.

Mas logo depois me chamaram pra ir pra Neverland, as pessoas queriam que eu falasse com ele. Ele sabia tudo da minha vida, ele leu tudo sobre mim. Cheguei lá, fui jantar com ele, a gente viu filme juntos, essas coisas todas.

E depois veio uma proposta do empresário dele: se eu não pensava em de repente ficar com ele. Eu falei: ‘Como assim?’. É porque ele gostaria de ter filhos, casar. E eles achavam muito legal ter essa junção. Uma pessoa que trabalha com criança na América do Sul e ele que gosta de criança. Ele me mostrou só as coisas de criança. Todos os clipes dele. Chorei, obviamente que eu ia chorar. Do lado do Michael Jackson, sentada no cinema, na casa dele. Como eu não ia chorar. Chorei, me debulhei. Ele pegava na minha mão, e quanto mais ele pegava na minha mão mais eu chorava. Pra mim é um ídolo, mas de ídolo pra outra coisa era muito diferente. Então não rolou. Minha resposta, obviamente, foi não. Eu fico com a pessoa que eu me apaixono.

A mulher
A coisa mais difícil é o cara me aceitar do jeito que eu sou. Eu sou complicada pra caraca. Eu sou muito independente, eu gosto de fechar a porta do meu carro, gosto de dirigir, não gosto que ninguém pague as minhas contas, eu gosto de liberdade, já que eu tenho tão pouco.

Não abro mão de ficar perto da minha filha por homem nenhum. Meu trabalho está na frente porque também é uma coisa que eu preciso pra poder ajudar todo mundo. Minha fundação depende de mim, minha família depende de mim, minha filha. E eu preciso disso pra me sentir viva, me sentir melhor. Aí eu vou deixando porque talvez um dia esse homem vá aparecer na minha frente, bater na minha porta, como já aconteceu e rolar. E não rola assim. Não existe isso. Não vai ter essa segunda vez. Esse alguém batendo na minha porta e dizendo: ‘Eu sou tudo isso que você quer, estou aqui para você’. Então eu não estou procurando. Continue lendo clicando aqui

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